Larissa Teixeira / USP Online. Disponível em: http://www4.usp.br/index.php/sociedade/22584 | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Publicado em: 19/10/2011 |
Para conhecer a diversidade linguística brasileira, o Governo Federal instituiu em 2010 o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), que identifica e documenta as línguas que formam a sociedade brasileira por meio de variadas pesquisas. Uma delas, o Levantamento Etnolinguístico de Comunidades Afrobrasileiras, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, inventariou o "português afrobrasileiro". | ||
O levantamento é coordenado pelas professoras Margarida Maria Taddoni Petter e Márcia Santos Duarte de Oliveira, que foram convidadas pelo governo para integrar o projeto-piloto devido a seus estudos nesta área no Brasil e na África. A proposta, neste caso, foi avaliar a permanência da cultura e de traços de línguas africanas em duas comunidades quilombolas de Minas Gerais – Tabatinga e Milho Verde – e uma do Pará – Jurussaca.
Foram realizados uma pesquisa sobre a história dessas comunidades, a coleta de textos orais, a organização de um banco de dados histórico, linguístico e cultural, além da investigação das variedades do português falado por essa população, considerando aspectos gerais da gramática e do léxico desse português ‘étnico’.
A denominação de “português afrobrasileiro”, dada para a língua inventariada, baseou-se no livro O Português Afro-Brasileiro de Dante Lucchesi, Alan Baxter e Ilza Ribeiro (EDUFBA, 576 pp.), publicado em 2009.
Antes da implementação do Inventário, foi criado o Grupo de Trabalho da Diversidade Linguística (GTDL), encarregado da formação e gerência dos projetos-piloto que testariam a metodologia do INDL. Segundo a professora Márcia, o governo pretende, nos próximos anos, "realmente conhecer a diversidade linguística brasileira, o que incluiria as línguas indígenas, as línguas de imigração, as línguas de sinais, e o português afrobrasileiro e indígena falado em comunidades quilombolas", conta.
Metodologia
Os outros projetos-pilotos do Inventário já tinham métodos definidos, mas segundo Márcia, não havia como utilizar a mesma metodologia em um inventariado que envolvia situações linguísticas tão diferentes. “O ideal era que a metodologia fosse uma só, mas como ser metodologicamente único num inventariado de surdos-mudos, comunidades indígenas, comunidades quilombolas e imigrantes do sul do país?”, questiona.
Para vencer essa dificuldade, as professoras obtiveram o apoio de consultores. Entre eles, o professor Valdir Barzotto, da Faculdade de Educação (FE) da USP; os professores Dante Lucchesi e Ilza Ribeiro, da Universidade Federal da Bahia (UFBa); o professor Emilio Bonvini, do Le Centre National de la Recherche Scientifiquee (CNRS/ França); a professora Rosa Acevedo, da Universidade Federal do Pará (UFPa); e a professora Sônia Queiroz, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Assim, a coleta dos dados foi efetuada por meio de viagens de campo e por larga pesquisa documental. Foi feito o levantamento e apreensão da fala através de entrevistas e gravações, com a transcrição dos dados sendo feita por 81 alunos da FFLCH sob a orientação das professoras Márcia e Margarida.
Morador da comunidade do Baú junto à professora Margarida Petter |
Juntamente com os consultores, as professoras propuseram em seu relatório final, enviado ao Ministério da Educação (MEC) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um edital que contempla não somente uma questão de "afrobrasilidades", mas que abranje um português chamado de "étnico". "Se o governo abrir editais somente de matriz afrobrasileira, estará cometendo um equívoco. Temos no norte do país comunidades indígenas que não falam mais a língua indígena, mas também não falam o português que nós falamos, e sim um português diferenciado, étnico", afirma.
Benefício social
Márcia destaca a importância de se valorizar as comunidades e o português que elas falam, trazendo a consciência deste valor para dentro da própria universidade. Para a docente, o conhecimento da diversidade linguística do país pode contribuir com o ensino da língua escrita em comunidades isoladas.
“Precisamos formar profissionais especiais para essas realidades linguistícas, que vão para as comunidades e comecem a inserir o ensino da língua escrita a partir da realidade dessas falas. Somente de posse dessa concepção é que nós vamos poder realmente formar cidadãos capazes de articular a língua escrita e a língua falada com propriedade no país”, conclui.
Resultados e continuidade
O projeto-piloto foi entregue em Brasília em fevereiro deste ano e os últimos relatórios ainda estão sendo enviados. “Esperamos que o governo Dilma dê continuidade ao processo, mas estamos em fase de transição. Ainda não se formou a comissão da organização (INDL) de fato. O que está sendo feito agora é organização final do resultado desse projetos-pilotos”, comenta.
Toda a pesquisa e coleta de dados do projeto realizado na FFLCH estão disponíveis no site Projeto Piloto IPHAN/USP Comunidades Quilombolas, em uma iniciativa das professoras responsáveis que visa torná-lo público e divulgá-lo amplamente, tanto para professores e especialistas como para a população em geral.
Mais informações: site www.fflch.usp.br, email marcia.oliveira@usp.br, com Márcia Santos Duarte de Oliveira e mmtpetter@uol.com.br, com Margarida Taddoni Petter
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